Amapá

Campanha convoca mulheres ribeirinhas do Bailique para debaterem e cobrarem o fim da crise energética na região

Mulheres ribeirinhas e extrativistas da comunidade Igarapé Grande do Curuá são convidadas pela Associação Gira Mundo e pelo Coletivo Utopia Negra Amapaense, ambas sem fins lucrativos, a debaterem e lutarem pelo fim da crise energética na região. A ilha é uma das mais de 50 que compõem o arquipélago do Bailique, na costa do Amapá, com cerca de 14 mil habitantes que convivem sem energia elétrica há décadas. Em parceria, as entidades lançaram a campanha “Te liga, comadre – mulheres por energia popular”.

O projeto foi apresentado aos moradores no dia 22 de julho. Em Igarapé Grande do Curuá residem aproximadamente 100 famílias. O fornecimento de energia é através do Linhão, mas quase nunca tem luz nas casas e/ou posteamentos. A única fonte de claridade nas noites vem de lamparinas. Poucos têm gerador próprio (os conhecidos motores a combustível) ou energia solar, e os relatos apontam que a localidade está há mais de três meses sem energia.

A iniciativa quer envolver a comunidade em ações efetivas para provocar os poderes públicos a solucionarem de vez o problema constante de falta de energia nas ilhas do Bailique, tendo na linha de frente a voz das mulheres, que na região são, em sua maioria, extrativistas, mães, jovens e adultas que lidam com a vulnerabilidade socioambiental, sofrem os impactos diretos da crise energética nas funções de casa, no trabalho, e ainda enfrentam a violência física, de gênero, a insegurança nas noites de escuridão.

O intuito é reunir mulheres entre 17 e 35 anos para debaterem as necessidades locais. Com o lema “fortalecer e engajar”, a meta é capacitar pelo menos 10 lideranças extrativistas na construção de uma Carta das Comadres (carta compromisso) com propostas inclusivas de incidência política, para entregar aos órgãos públicos de direito – aos que podem somar com a causa, e aos que respondem pela situação.

O intuito é reunir mulheres entre 17 e 35 anos para debaterem as necessidades locais.

Além da carta, a campanha “Te liga, comadre – mulheres por energia popular” vai ofertar oficinas formativas, ao longo do mês de agosto, com temáticas sobre mudanças e Justiça Climática, Justiça Energética e Comunicação Ativa. Também serão confeccionadas faixas com frases de efeito, disseminando o sentimento de “SOS Bailique”, que serão colocadas nas rabetas (embarcação de porte pequeno, comum na região amazônica como principal meio de transporte dos ribeirinhos).

Por fim, as ações irão culminar com a celebração do Dia da Amazônia, em 5 de setembro, com festividade e rabetaço. Também será realizado o campeonato “Poraquê”, com jogos ribeirinhos, vendas de produtos que as mulheres extrativistas produzem nas comunidades e a finalização da “Carta das Comadres”, com dados sobre a crise energética no arquipélago e apontamento de possíveis soluções.

Ação aconteceu na comunidade Igarapé Grande do Curuá.

A campanha ocorre simultaneamente no Marajó, maior arquipélago fluvial-marítimo do mundo, com mais de 2,5 mil ilhas e mais de 500 mil habitantes. Lá, cerca de 230 mil pessoas vivem no escuro, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica.

Os realizadores compreendem que as mulheres são pontos de resistência, que embora elas sejam maioria das lideranças que lutam por suas comunidades, pouco estão no centro do debate. “Te liga, comadre – mulheres por energia popular” quer trazê-las para a linha de frente, dando a elas visibilidade e suporte em suas comunidades.

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