Polícia

Em um mês de funcionamento, 95% dos BO’s registrados na Delegacia de de Repressão a Crimes Cibernéticos são de estelionato

A Delegacia de Repressão a Crimes Cibernéticos (DR-CCiber), que funciona no aeroporto internacional de Macapá, completou 30 dias de funcionamento e surpreendeu delegados e agentes, que não esperavam, em tão pouco tempo, uma procura grande de vítimas que caíram em golpes pela internet. De acordo com a delegada Áurea Uchôa, titular da DR-CCiber, 95% dos Boletins de Ocorrências (BO) feitos na especializada são de crimes de estelionato.

“Nossa delegacia tem sido bastante movimentada. Inclusive, o número de registros feitos aqui mesmo, foi muito maior do que nós esperávamos. Pensávamos que até reduziria por causa do estacionamento que é pago. Em que pese a pessoa ter a possibilidade de fazer o BO online, por meio do site da Polícia Civil, na delegacia virtual, as vítimas têm procurado muito a nossa DP, e a maior parte dos registros é relacionada a algum tipo de estelionato. Quase 95% da nossa demanda hoje é esse tipo de crime”, disse a delegada.

A autoridade policial detalhou que em um mês de funcionamento a delegacia está com 84 investigações em andamento e 63 novos Boletins de Ocorrências. Áurea explicou que, até o momento, nenhum caso foi solucionado porque os inquéritos de crimes cibernéticos dependem de respostas que são emitidas por órgãos de fora do estado.

Delegada Áurea Uchôa, titular da DR-CCiber

“São respostas de provedores, às vezes, de empresas. A forma de investigação de crimes cibernéticos é um pouco mais complexa. Tem alguns casos que não pairam só na esfera estadual. Vem de uma demanda nacional e outros até internacional. Então, precisamos de um pouco mais de tempo para fechar as investigações de forma ‘redonda’. No crime normal, por exemplo, a gente consegue fazer a intimação de uma pessoa aqui. O que não aconteceu quando a pessoa é de fora”, ponderou.

Ainda de acordo com a delegada, a maioria dos investigados no Amapá são presos que estão dentro do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen). Ela explicou ainda as diferentes modalidades como os golpistas agem.

“O crime de estelionato varia muito  e tem muitas formas de cometimento. Temos o golpe do boleto falso, que hoje até no Google você pesquisa e tem essa opção. Não só em boletos, mas em links, que são enviados pelo WhatsApp ou SMS, como se fossem de agências bancárias ou de empresas de viagens. Mesmo a pessoa não tendo nenhum dado para atualizar ou não ter comprado nenhuma passagem, ela vai lá e clica. E com isso, tem seus dados captados pelos criminosos. Nas últimas semanas temos tido muitos casos do golpe do nudes, aplicado normalmente pelo Facebook. Circunstância em que o golpista se passa por uma menor de idade, faz o primeiro contato e inicia a conversa. Em seguida, faz uma chamada de vídeo, de uma menina tomando banho e, a partir do momento que a pessoa atende, ele printa essa tela. Depois, entra uma terceira pessoa, se passando pelo pai dessa garota e pedindo dinheiro para não divulgar a foto”, descreveu Áurea Uchoa.

Número de vítimas pode ser maior do que os denunciados

A delegada acredita que o número de boletins poderia ser bem maior. Para Áurea, grande parte das vítimas do golpe do nudes não registra o fato por vergonha e por ser casada. “Tem gente que acaba enviando os valores para esses gospistas. Estamos com alguns inquéritos encaminhando para a finalização. Infelizmente, é um crime muito recorrente”, revelou

A DR-CCiber é responsável por investigar delitos cibernéticos de maior complexidade. Segundo os levantamentos da PC, a maior parte dos criminosos relacionados a crimes virtuais não estão no estado. Ela deu como exemplo, a quadrilha que recentemente invadiu o site do Governo do Estado do Amapá.

Além de registrar e investigar crimes virtuais, a delegacia lida também com atendimento ao turista

“Uma mesma quadrilha que age em São Paulo e no Rio Grande do Sul, é a mesma que pode estar aplicando delitos aqui. Por isso, que demanda um maior tempo de investigação. Esse mesmo grupo que atacou o sistema do GEA, atacou num prazo de cinco dias, outros sites de governos de outros estados, como os das secretárias de saúde do Rio Grande do Sul e do Ceará e da Polícia Civil de São Paulo. Esse ataque foi feito como forma de retaliação por causa da prisão de um componente deles. Já sabemos que esse bando tem um braço em Portugal. Mas, infelizmente, é um crime bem complicado de investigar. Porque eles usam um mecanismo que não tem como rastrear. Eles fazem com que o sinal não acuse nem aqui no Brasil. Tem uns que acusam na China”, revelou a delegada.

Além de registrar e investigar crimes virtuais, a DR- CCiber lida também com atendimento ao turista. Para os próximos meses, a titular da especializada estima que os números de registros cresçam mais ainda. Os casos menos complexos, segundo Áurea, continuarão nas delegacias de bairros. Como o caso do golpe, onde o estelionatário usa a foto de uma outra pessoa para pedir dinheiro dos parentes e amigos.

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