“Nós queremos justiça e vamos até o final”, disse irmão de comerciante morto com o enteado durante uma ação da PM em Santana

O homem, que pediu para não ser identificado e nem ter a imagem divulgada, é irmão de Helkison José da Silva do Rosário, de 38 anos de idade, e tio de Rafael Almeida Ferreira, de 19, mortos na noite da última sexta-feira, 10, durante uma ação que envolveu uma guarnição do 4° Batalhão da Polícia Militar (BPM), que atua na cidade de Santana – distante a 17 quilômetros da capital amapaense.

Nosso entrevistado, que iremos chamar de “Paulo”, nos recebeu em sua casa, localizada a poucos metros do local onde o fato aconteceu. Para a equipe do portal alynekaiser.com.br, ele disse que muitas coisas atípicas aconteceram naquele dia.

“Eles [Helkison e Rafael] fecharam o mercantil um pouco mais tarde e decidiram voltar de bicicleta, o que não era costume, pois tinha um carro que os traziam. E, justamente, naquele dia, eles mudaram completamente o trajeto. Eles tinham que passar aqui por casa para trazer umas compras. Uma série de situações. Eles não estavam com o uniforme que sempre usavam”, contou.

Paulo disse ainda que, após 20 minutos, aproximadamente, chegou ao local aonde o irmão e o sobrinho haviam sido baleados. Para a família, não há dúvidas de que pai e filho foram executados por terem sido confundidos com criminosos.

“Nós percebemos que havia alguma coisa estranha. Nunca tínhamos ouvido tantos tiros. Eu liguei para o Helkison e ele não atendeu. Meu outro irmão ligou também, e nada. Então, fomos para o local e, chegando lá, vi os dois mortos e logo reconheci. Muitas pessoas viram o que aconteceu e nos garantiram que eles foram executados. Mesmo pedindo que não atirassem, mesmo falando que não eram bandidos, que não tinham nada a ver com aquela situação”.

Hilkeson deixa a esposa e um filho de 8 anos. Paulo alegou que a família está muito abalada e que não vai desistir da Justiça. “Nosso sentimento é de revolta por conta do despreparo desses policiais. Nós queremos a prisão de todos eles, pelo que eles fizeram”, finalizou.

O caso está sendo investigado pela 1° Delegacia de Polícia de Santana. O delegado Victor Crispim falou com nossa equipe, mas não quis se aprofundar sobre o Inquérito Policial (IP).

“Ainda estamos montando o inquérito. Começamos a ouvir as testemunhas, os policiais envolvidos na ocorrência. Inclusive, fui ao hospital conversar com o suspeito que estava no carro. É um caso muito complexo. Várias diligências então sendo realizadas. O que posso adiantar, é que esse rapaz, que segue internado, revelou que conhecia o motorista de aplicativo, e que por ter conhecimento com ele, ligou para que fizesse uma corrida. Ele confessou também que estava foragido do sistema prisional. Agora, tudo que eu falar nesse momento será muito prematuro. Vamos aguardar os laudos, os depoimentos”, ponderou o delegado.

O comando da Polícia Militar se manifestou atrás da Diretoria de Comunicação (Dicom). O porta voz da PM, tenente Josiagab, disse que logo após tomar conhecimento dos fatos, a corregedoria da instituição instaurou inquérito para apurar os fatos. Os militares envolvidos na ocorrência foram afastados dos serviços. 

“Foi uma ocorrência bastante complexa, que iniciou com a denúncia de uns indivíduos que estariam rondando um residencial, em um carro HB20, armados. A equipe foi para fazer a abordagem e eles não obedeceram. Empreenderam fuga em alta velocidade. Houve o acompanhamento tático e, num determinando momento, eles perderam o controle da direção e houve a troca de tiros entre policiais e bandidos. Desse confronto três pessoas vieram a óbito e uma foi conduzida ao hospital. Posteriormente, começou a circular que duas dessas pessoas mortas eram inocentes. A partir de então, o comandante determinou a abertura dos procedimentos para apurar todos os fatos”, disse Josiagab.

A ocorrência

Conforme o relatório do 4º Batalhão da PM, havia informação de que estavam acontecendo vários roubos a residências no bairro Acquaville. Houve então um reforço no policiamento naquele local. O veículo suspeito, conduzido por Igor Ramon, foi visto no bairro e a polícia tentou fazer a abordagem, mas houve fuga e, em seguida, uma perseguição que foi filmada por câmeras de segurança. O veículo teria praticado direção perigosa, avançando semáforos e ruas preferenciais, e de dentro teriam ocorrido disparos contra as equipes em diligência. Em dado momento, o veículo perdeu a direção e colidiu contra uma casa.

Segundo consta no BO da PM: “Após colisão vários indivíduos saíram do veículo efetuando disparos nas equipes que revidaram a injusta agressão, sendo que dois indivíduos, empreenderam fuga a pé, efetuando disparos contra as equipes. Informo que onde o veículo colidiu trata-se de lugar com baixa luminosidade, com árvores e depreciação no solo. Patrick Moraes dos Santos foi conduzido para ao Hospital de Emergências com vida”.