Polícia

Preso em operação da PF, delegado da Civil foi transferido para o Centro de Custódia do Zerão

Após ter sido submetido a audiência de custódia no Fórum de Macapá, o delegado da Polícia Civil Sidney Leite Henriques, que estava com mandado de prisão preventiva decretado, foi transferido para o Centro de Custódia do bairro Zerão na madrugada desta quinta-feira (15), pelo Grupo Tático Prisional (GTP) do Iapen.

Segundo informações, Leite e os dois policiais penais, José Antônio Bastos Nunes e Marton Cleidson de Araújo Costa, presos durante a Operação Queda da Bastilha, desencadeada ontem (14) pela Força Tarefa de Segurança Pública, deram entrada no Centro por volta de 2h.

José Antônio, policial penal

Abatido, o ex-titular da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes (DTE) e que disputa uma vaga na Assembleia Legislativa do Amapá (Alap) pelo PTB, chegou a chorar antes de dar entrada na cadeia. Ele fez uma ligação ao seu advogado para pedir um ventilador, porém, não teve retorno, uma vez que o telefone do mesmo estava fora da área. Foi o que revelou uma fonte.

Martin, policial penal

Sidney Leite, José Antônio e Marton e as advogadas Verena Lúcia Corecha Costa e Ana Karina Guerra, que também foram presas durante a ação, são acusados pelo Ministério Público (MP), de envolvimento com uma facção criminosa atuante no Estado.

Dos presos, apenas Ana Karina vai responder em regime domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica.

De acordo com a polícia, a organização criminosa estruturada agia dentro e fora da penitenciária. O bando estava sendo investigado por tráfico de drogas, associação para o tráfico, organização criminosa, corrupção ativa e passiva, prevaricação, falsidade ideológica e lavagem de capitais.

Os pagamentos do material ilícito que adentravam ilegalmente no Iapen, eram feitos por meio de “laranjas”, titulares de contas bancárias. Conforme apuração, um interno beneficiário do esquema era responsável por captar clientes presos para os advogados envolvidos, serviço pelo qual ele era remunerado.

As investigações

Segundo informações, os levantamentos da Polícia Federal (PF) iniciaram depois da captura de Letícia Kenya Staut Ferreira, em fevereiro deste ano. Ela era funcionária da empresa que fornecia alimentação para o presídio e foi flagrada ao facilitar a entrada de drogas, armas, munições e celulares na cadeia.

Foi através dela, que a polícia detectou o esquema criminoso que envolvia funcionários públicos, servidores do Iapen, advogados e presos. A transação fraudulenta provia, ainda, alimentação diferenciada, atestado médico falso para concessão de prisão domiciliar e irregularidades no uso de tornozeleira eletrônica, mediante pagamento.

Telefones
As investigações apontaram que um dos modos de acesso de celulares pelos presos, se dava pela bomba d’água. Era lá que os telefones ficavam escondidos, após entrarem ilegalmente no presídio. Os aparelhos eram negociados por um aluguel de R$100 por dia, para os detentos que não participavam do esquema.

Tornozeleira
Conforme a PF, ficou evidenciado também, um esquema para a não colocação de tornozeleira eletrônica, em caso de liberdade para regime domiciliar ou liberdade provisória dos internos, mediante pagamento de R$2 mil para servidores e advogados.

Laudo médico

Foram apurados ainda, casos de obtenção ilegal de laudo psiquiátrico, envolvendo o pagamento de R$5 mil, para servidores da penitenciária. A Polícia Federal constatou que outros internos chegaram a pagar quantias de R$20 mil e até R$150 mil para servidores do sistema prisional.

Mensagens via whatsapp

Nos autos, com mais de 150 páginas, o MP expôs as conversas entre Sidney Leite e o líder da facção, conhecido como “Tio Chico”. Nas mensagens, ficou evidenciado que o delegado se prontificou para interceder em favor do preso no esquema da fraude dos atestados falsos; a intermediação pela autoridade para locação de um veículo blindado e uma residência para que, no caso do benefício da prisão domiciliar dar certo, ser usado pelo detento.

Há ainda fortes indícios da intenção de fuga de “Tio Chico, ao ser liberado, com a conivência do delegado, o que não foi concretizado.

Segundo a PF, Sidney foi investigado por um acordo com um líder de facção para intermediação junto a um integrante do Poder Judiciário, visando que outro preso fosse solto, em troca de vantagens. Na conversa é sugerido o pagamento no valor de R$30 mil pelo serviço, mesmo com o risco de não acontecer, devido a honestidade do membro da justiça.

Os agentes federais tiveram acesso a documentos com movimentação de dezenas de milhares de reais entre contas bancárias. A Justiça determinou o bloqueio de valores dessas contas e aplicações financeiras dos investigados.

Se condenados, as penas somadas, dos investigados, podem chegar a 60 anos de reclusão.

Nossa equipe fez contato com a defesa do delegado. Por telefone, o advogado Elias Reis disse que não vai se pronunciar no momento.

A Polícia Civil, por meio da assessoria de comunicação, disse que a manifestação foi feita através de uma nota à imprensa, assinada pela Delegacia Geral e pela Associação dos Delegados. No texto a instituição informou que irá solicitar formalmente cópia dos autos do inquérito que apura a conduta do servidor, com o fito de que sejam adotadas as providências no âmbito
administrativo, se de fato, restar alguma características de ilicitude. A nota diz ainda, que entende como açodada e
desproporcional a medida cautelar imposta contra Sidney.

A operação

Queda da Bastilha foi o assalto popular à Bastilha, prisão símbolo da opressão do Antigo Regime francês. A tomada dessa prisão foi consequência da tensão popular provocada pela crise econômica e política que a França enfrentava no final do século XVIII.

Em Macapá foram cumpridos 22 mandados de busca e apreensão.
Destes, 6 foram nas dependências do Iapen, sendo 4 em celas de internos e dois 2 em salas de servidores. Além de oito mandados de prisão preventiva e um (1) de prisão domiciliar.

As buscas e prisões ocorreram em residências e escritórios de advocacia, em diversos bairros da capital amapaense.

A ação contou com o apoio da Força Tarefa de Segurança Pública (FTSP) e equipes da Força Tática e 6° batalhão da Polícia Militar (PM), da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e GTP.

Sidney Leite é natural de Brasília e tem 46 anos. Casado e pai de quatro filhos (um prestes a nascer), ele integra o quadro da Polícia Civil do Amapá desde 2007.

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