Defensoria Pública ajuda amapaense a salvar vida de criança que precisa de doação de fígado
Em tratamento desde 2020, criança de 7 anos aguarda em São Paulo pela doação. DPE-AP conseguiu Alvará Judicial que autoriza a cirurgia.
Na última terça-feira, 8, a Defensoria Pública do Amapá conseguiu um Alvará Judicial autorizando o amapaense Mateus Furtado, de 22 anos, a doar parte de seu fígado ao pequeno Derick Pereira, maranhense de 7 anos.
A cirurgia deve ocorrer ainda este mês, encerrando uma busca por um doador compatível que foi achado da maneira mais improvável possível.
Foi no município de Grajaú, interior do Maranhão, que Derick, na época com apenas 5 anos, passou pela primeira de muitas unidades de saúde. Ali, iniciava uma jornada por um diagnóstico e posteriormente por um renascimento. Ele faz parte dos 2.006 pacientes que esperam um transplante de fígado em 2022, segundo dados do Ministério da Saúde.
O pequeno possui Colestase Crônica, uma condição que leva a interrupção do fluxo da bile do fígado ao duodeno. Taynan Apinage, mãe de Derick, conta que nos dois últimos anos estiveram em Imperatriz, Teresina, São Luiz e desde o final de 2020 estão morando em uma casa de apoio em São Paulo para tratar a doença do filho.
“Chegamos em dezembro de 2020 e nas consultas já disseram da necessidade urgente de fazer um transplante. Aí começou a correria por um doador”, disse a mãe do garoto.
Taynan, o avô do menino, uma amiga da família e dois outros voluntários tentaram ser doadores, mas não puderam. O pai, mesmo sabendo do risco de vida da criança, se recusou a passar pelos exames. “Abandonou o Derick”, lamentou Taynan.
Mas em setembro deste ano tudo mudou. A esperança do fim de uma longa espera estava há 2.664,1 quilômetros de São Paulo, em Macapá. Era um dia normal de trabalho quando Mateus conheceu a história de Derick.
Uma prima do jovem, que fazia o tratamento do filho em São Paulo, conheceu Taynan na casa de apoio e a situação de ambas resultou na amizade. “Ela veio aqui no salão e na conversa me falou da condição dele e já perguntou meu tipo sanguíneo”, contou Mateus.
“Eu falei que poderia e teria coragem de doar. Era uma coisa que, se fosse no meu caso, eu gostaria que alguém tivesse essa boa atitude por mim”. E isso chegou perto de acontecer com a mãe do rapaz, que tem problemas cardíacos e quase precisou de um transplante de coração. Ele diz que essa foi uma das motivações para seguir com a doação.
O amapaense conversou pelo WhatsApp com Taynan e com as médicas de Derick sobre o procedimento e em outubro viajou para São Paulo para fazer os exames e conhecer o menino. “A gente até saiu para se divertir”, comenta alegre.
Quando encontrou Mateus pessoalmente, Taynan disse que “toda a perspectiva e expectativa à respeito dele mudou”, a possibilidade de ter um doador era cada vez mais real. Por sorte, todos os exames foram aprovados, só faltava uma coisa: a autorização judicial.
A doação entre vivos é possível para órgãos como rins, que são duplos, parte do fígado, parte dos pulmões e medula óssea. O doador vivo deve possuir maioridade, ser capaz juridicamente e concordar com a doação.
Segundo a Lei nº 9.434/97, que dispõe sobre os processos de transplante de órgãos, a doação é permitida para cônjuge ou parentes consanguíneos até o 4º grau, já no caso de pessoas sem grau de parentesco, é necessário uma autorização judicial, exceto para medula óssea.
Quando voltou para Macapá, Mateus buscou a Defensoria Pública. “Ele veio e explicou a situação, que ele era compatível e gostaria muito de fazer a doação. Entramos com um pedido de Alvará Judicial para autorizar o procedimento cirúrgico”, explicou a defensora pública Marcela Fardim, que atendeu o caso.
Na última terça-feira, 8, o pedido foi atendido. Segundo Mateus, em 10 dias ele irá novamente à São Paulo para realizar a cirurgia.
“Eu gostaria que as pessoas fossem em uma casa de apoio e conhecessem as histórias”, deseja Mateus. Para ele, essa seria uma forma de alcançar novos doadores. “São muitas crianças que perdem a vida toda que tinham pela frente”, desabafou.
Por ser um órgão que se regenera, doar parte do fígado não traz prejuízos à vida do doador.
“Durante esse tempo que estou em São Paulo, já vi umas 10 crianças serem transplantadas e ficarem bem, mas também vi muitas crianças que perderam a vida esperando”, disse Taynan.
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