Quilombola, Wendel Uchôa é o 1º amapaense a ter samba campeão na Porto da Pedra no Rio de Janeiro
O amapaense Wendel Uchôa foi o primeiro amapaense a ter samba enredo campeão na escola de samba Porto da Pedra no Rio de Janeiro. Ele foi um dos compositores que compôs o samba “Vermelho Urukum! O Tigre de Guerra! Não se esconda quando eu voltar, eu sou orgulho e paixão, bem mais que um pavilhão, a força que faz esse povo lutar”, que vai adentrar a apoteose do samba no carnaval 2025 do Rio de Janeiro.
Essa conquista é um marco tanto para ele quanto para o Amapá, levando a força do samba amapaense para uma das maiores celebrações do samba no Brasil.
Além de Wendel também compuseram o samba Guga Martins, Passos Júnior, Gustavo Clarão, Cristiano Teles, Cadu Cardoso, Abílio Júnior, Marcelo Moraes, Tangerina, Marquinho Paloma, Leandro Gaúcho e Ailson Picanço.
Wendel é quilombola do Igarapé do Lago, psicólogo, conselheiro estadual de cultura e de políticas para igualdade racial. “Meu primeiro contato com a musicalidade foi no quilombo, com batuque e marabaixo. Meu primeiro festival concorrendo foi em 2017, quando fui campeão com meu primo, Marcos Paes, com o ladrão de Marabaixo “No Marabaixo é assim”. Após isso comecei a disputar festivais nas escolas de samba do Amapá e agora fui chamado para essa parceria na Porto da Pedra e fomos campeões”, disse ele.
O fato de Wendel ter sido campeão reflete tanto a qualidade do samba quanto o reconhecimento de seu talento em uma escola de grande tradição. Essa conquista com certeza contribui para fortalecer ainda mais o cenário do samba amapaense no cenário nacional.
Trajetória
Wendel contou que em 2023 começou a se organizar para participar dos festivais cariocas, reunindo uma equipe de compositores amapaenses dentre eles Tayson Tiassú, Erick Boaventura e o Produtor musical Ermeson Luise, porém esbarraram na dificuldade financeira, logística das passagens aéreas, hospedagem, e diversos outros investimentos que são necessários para disputar um festival no RJ e por falta de patrocínio, não conseguiram viajar.
“Ai começaram os festivais de sambas amapaenses para o ano de 2024, e o compositor Antônio Neto e Davison Jaime me apresentaram um compositor paraense chamado Ailson Picanço, que me fez o convite para disputar o festival com a equipe dele na Porto da Pedra, escola da série Ouro do Rio de Janeiro. Eu aceitei na hora e começamos então a trabalhar nesse projeto. Em Junho deste ano fui até o Rio, participei das gravações em estúdio em julho. Eu não consegui participar das eliminatórias por não conseguir arcar com mais passagens aéreas e hospedagem, e mais a divisão de custos semanais da parceria que envolve logística da torcida, como ônibus, ingresso, equipe de palco como intérprete, Back vocal. Uma estrutura gigantesca que engloba uma disputa de festival”, disse.
O compositor disse que na reta final ficou acompanhando a disputa pelo grupo no WhatsApp e live pelas redes da escola. “Foram duas semanas de disputa, fiquei acordado até as 6h da manhã aguardando o resultado e a notícia veio: fomos consagrados campeões. É uma energia incrível assistir uma multidão cantando um samba de um projeto no qual eu faço parte, depois de tentar várias vezes em nosso Estado do Amapá fui conseguir no Estado mais difícil que é no Rio de Janeiro. Ganhei lá mas só esse ano investi e perdi em três escolas aqui, na Boêmios, Estilizados e Império do Povo”, disse. Ele foi finalista em todas.
Enredo da escola
“A história que a borracha do tempo não apagou”, enredo da escola, que fala também de Fordlândia, uma cidade no meio da Amazônia que o Henry Ford criou para a exploração da borracha, para fazer pneus, para a empresa dele, para Ford. “A escola vai falar que, na verdade, essas pragas que são consideradas pragas da Amazônia, como malária, essas outras doenças que os americanos não se adaptam, na verdade talvez pode ser uma forma de defesa da Amazônia para expulsar essas pessoas. A Fordlândia existiu por apenas 18 anos e hoje é uma cidade fantasma, um pouco parecida com a história disso”, disse ele.