Saúde

Especialista explica como o uso excessivo de celular por crianças afeta o desenvolvimento psicomotor

De acordo com a especialista, dependência digital é um processo que torna a criança mais “acelerada”.

Até que ponto é saudável deixar as crianças desfrutarem do uso de celulares, computadores e tablets? Para a coordenadora do Grupo de Saúde Digital da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Evelyn Eisenstein, não existe uma idade ideal para introduzir o uso desses aparelhos na vida dos pequenos. Mas, segundo ela, a palavra-chave é limite.

“O problema é: o que essa criança está deixando de fazer para ficar sob a tela? Sempre que possível, a criança tem de brincar, porque é por meio da brincadeira que ela desenvolve suas habilidades psicomotoras. Quando a criança deixa de fazer, por exemplo, o que chamamos de rotina de casa, como tomar banho, pula refeições e quer ficar o tempo todo no celular, ela vai criando uma patologia, doença mesmo, que é a dependência do mundo digital”, alerta Evelyn.

Médica pediatra, Evelyn cita pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil, feita com crianças e adolescentes sobre o acesso e uso da rede. De acordo com o estudo, houve crescimento significativo na proporção de usuários da rede na faixa de 9 e 10 anos (92% em 2021, frente a 79% em 2019). “De um lado, a gente fala que é bom, claro. Mas, como pediatra, tenho que falar dos riscos. Existe o outro lado das telas, o dos riscos à saúde”, defende.

A médica também destaca que a dependência digital é um processo que torna a criança mais “acelerada”, porque provoca uma alternância de humor, em que a criança fica mais irritada ou mais chorosa. “Isso está relacionado à liberação de dopamina, um neurotransmissor cerebral que deixa a criança reagindo assim”, afirma.

De acordo com o estudo, houve crescimento significativo na proporção de usuários da rede na faixa de 9 e 10 anos.

A pediatra também ressalta que o comportamento dos pais tem influência direta no consumo digital dos filhos. “Estamos falando cada vez mais de os pais desconectarem e caminharem com seus filhos. Aproveitar, por exemplo, o fim de semana com um passeio ao ar livre. Os pais que estão conectados o tempo todo servem como modelo referencial para a criança e nem percebem o risco. Dessa maneira, vai se criando uma codependência”, diz Evelyn.

Confira algumas das recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria:

  • O tempo de uso diário ou a duração total/dia do uso de tecnologia digital deve ser limitado e proporcional às idades e às etapas do desenvolvimento cerebral-mental-cognitivo-psicossocial das crianças e adolescentes;
  • É preciso desencorajar, evitar e até proibir a exposição passiva em frente às telas digitais, com exposição aos conteúdos inapropriados de filmes e vídeos, para crianças com menos de 2 anos, principalmente, durante as horas das refeições ou 1h-2h antes de dormir;
  • É fundamental ter tempo para saúde com sono dentro do horário adequado para cada faixa etária, bem como o número de horas, importante não só pelo descanso, mas também para a produção de hormônios, de maneira fisiológica;
  • Não se deve esquecer de ter uma alimentação regular e com horários para café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar, bem como atenção para qualidade não só nutricional, mas sem excesso calórico e também tempo para fazer alguma atividade física regular, exercícios ou brincadeiras com movimentos ativos;
  • Os limites contribuem como organizadores mentais e de rotinas saudáveis.

Fonte: Ministério da Saúde

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