
A família de Larissa Ramos, que tinha 30 anos de idade, está há 3 meses tentando conseguir a correção da certidão de óbito da moça que foi vítima da Covid-19. Segundo a família, ela faleceu no momento em que estava sendo transferida da UBS Lélio Silva para o Hospital Universitário.
De acordo com Bernadete Ramos, mãe de Larissa, a Certidão de Óbito foi emitida sem hora, com sexo e cor diferentes, e CPF errado. Bernadete conta que já tentou de todas as formas a reparação, mas não obteve êxito.
Ela diz que buscou o primeiro atendimento para a filha na UBS Lélio Silva às 4h15 do dia 10 de março. Bernadete, que é técnica em enfermagem, conta que Larissa chegou com uma saturação de 92 e frequência cardíaca de 128. Durante todo o momento, Larissa permaneceu orientada e no oxigênio.

“Pela manhã veio uma tosse persistente, mas estável. Os testes rápidos que ela realizou na UBS não apontaram Covid, somente na tomografia é que foi comprovado e atestado que ela estava com 40% do pulmão comprometido, e quando foi à noite ela começou a vomitar. A equipe da UBS entrou com medicação, entre elas, hidroxicloroquina. Algum tempo depois só vi ela dando entrada na sala vermelha, mas sempre consciente”, conta a mãe.
“Enquanto ela estava com máscara de oxigênio, apontava 98 de saturação e, até então, estável. Por volta de meia-noite já do dia 11 de março chegou uma ambulância para realizar a transferência de Larissa para o HU. O que me pegou de surpresa”, diz.

“Alguns minutos depois, a médica da ambulância veio perguntar quem era a mãe da Larissa e pediu para que eu conversasse com ela, pois se não fosse intubada ela iria a óbito. Você imagina o desespero e como fica o coração de uma mãe ao ouvir uma coisa dessas. Foi então que eu entrei na sala vermelha e disse para minha filha que ela seria transferida para o HU. Não tive coragem de falar da intubação, mas prometi que estaria lá no hospital quando ela chegasse, ela disse que estava tudo bem e eu sai”.
Mais uma vez a médica retorna até a mãe. Desta vez, para dizer que Larissa tinha tido uma parada cardíaca de três minutos. “Faltou o chão nessa hora, foi quando minha filha passou próximo de mim, muito agitada. Quem é intubado não fica agitado daquele jeito. Sem traqueia, sem tubo, sem oxigênio e com sangue escorrendo no canto da boca, já direto para ambulância. Pedi a médica para que eu acompanhasse minha filha, mas ela não deixou e fomos no nosso carro até o HU”, relata Bernadete.

Ao chegar no hospital, Bernadete afirma que percebeu que a filha já estava morta, mas que, mesmo assim, omitiram a verdade a ela. “Quando tiraram minha filha de dentro da ambulância, ela estava totalmente parada, continuava com sangue escorrendo pela boca, com o rosto negro e prostado para o lado. Foi naquele momento que vi que minha filha estava morta. Ainda gritei que ela estava morta, mas mesmo assim a levaram para dentro do HU. Um tempo depois a assistente social veio me entregar uma relação de coisas como fraldas, que eu deveria levar no outro dia para minha filha, dando a entender que ela ainda estaria viva. Mal cheguei em casa, recebi uma ligação do hospital pedindo que eu fosse até lá, voltei e, então, me disseram que Larissa tinha ido a óbito”.
O primeiro erro foi percebido na hora do enterro, quando foi verificado que no espaço em que seria preenchido com o dia da morte colocaram o dia do nascimento da vítima. A família voltou ao hospital para que fosse corrigido e, então, houve o sepultamento. Dias depois, quando a família foi até o cartório, mais um erro veio à tona, no documento não constava a hora em que a morte ocorreu. “Foi nesse momento que o hospital começou a mostrar contradição, apresentando três horários diferentes para o óbito da minha filha”.
Sem respostas, a mãe clama pela documentação da filha. “Ela tinha emprego, cartões e todas as coisas dela. Eu quero o direito de poder encerrar todas as coisas dela e de ter o documento correto”, diz Bernadete, que vai até a Justiça para que tenha a reparação. “É meu direito de mãe saber o que aconteceu na sala vermelha da UBS Lélio Silva e dentro da ambulância do Samu, que fez o transporte. Minha filha não chegou viva ao hospital. Tanto é verdade que no prontuário não tem sequer registro de alguma medicação aplicada nela. Quero só a Justiça e verdade”.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde disse que lamenta o ocorrido e que uma sindicância foi instaurada para apurar o caso. Confira nota na íntegra:
Sobre o caso do óbito de Larissa Ramos da Silva, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) esclarece que abriu sindicância para apurar os fatos e aguarda o parecer para tomar as medidas cabíveis quanto aos responsáveis que prestaram o atendimento à paciente.
O Centro Covid HU já iniciou o encaminhamento da documentação necessária, para que os familiares consigam emitir a certidão de óbito da jovem. A Sesa se sensibiliza com o fato ocorrido e está nas tratativas para minimizar quaisquer transtornos.