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Manejo de açaizais e boas práticas na produção protegem o ecossistema e garantem oferta por açaí de qualidade

No Bailique, cooperativa de produtores é pioneira em certificações da produção de açaí

A partir dos anos 2000, os produtos derivados da polpa ou vinho do açaí, tradicionalmente consumido pela população do Norte do Brasil, ganhou o país e, mais recentemente, o mundo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o consumo de açaí aumentou a cada ano em média 15%. O açaí é, ao mesmo tempo, o principal componente da dieta de populações tradicionais da região e o fruto essencial da cesta de produtos oriundos da floresta comercializados em escala familiar e comunitária.

A fruta preta, nascida em cachos e nativa da Amazônia, é encontrada em grandes quantidades em áreas alagadas à beira dos rios que percorrem o território amazônico. Graças às suas propriedades nutricionais e ao alto valor calórico, o açaí se tornou queridinho dos atletas e um aliado para uma vida mais saudável. É um alimento rico em proteínas, fibras e minerais, como manganês, cobre, boro e cromo, e em vitamina E, um antioxidante natural que atua na eliminação dos radicais livres

Os números atuais da produção de açaí na Amazônia impressionam e confirmam a vocação da região para a comercialização do fruto. Mas diante do aumento da demanda, da crescente corrida pelo “ouro roxo”, como também é conhecido o açaí, a sociedade civil organizada, técnicos, pesquisadores e as próprias comunidades têm se perguntado como garantir que o extrativismo do fruto siga respeitando o equilíbrio do ecossistema, as culturas e os modos de vida tradicionais e dê conta da demanda de mercado.

Fruto é rico em proteínas

O açaí demanda o correto manejo e boas práticas de produção para garantir o máximo potencial da polpa oriunda do fruto. O manejo de açaizais e as boas práticas de produção, com atenção à conservação da biodiversidade, têm sido a aposta de organizações sociais comunitárias para o equilíbrio dessa balança.

Um exemplo de manejo bem-sucedido no coração da Amazônia vem do arquipélago do Bailique, distante cerca de 12 horas de Macapá, capital do Amapá, e de seu vizinho, território conhecido como Beira Amazonas, também no Amapá. Moradores das duas localidades compõem a Amazonbai, nome comercial da Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas do Bailique e Beira Amazonas que tem atuado para garantir a comercialização de um açaí com alto valor agregado e que fomente o desenvolvimento social e ambiental.

Bailique é exemplo de manejo bem-sucedido

De acordo com Amiraldo Enuns de Lima Picanço, 35 anos, presidente da Amazonbai, há 10 anos, o açaí da região era considerado o pior açaí do Estado do Amapá. Entre as causas da má-fama estava a logística. “O Bailique é distante da cidade e o açaí é um produto altamente perecível, então sem estrutura não era possível garantir uma boa qualidade”, explica. Amiraldo conta que, entre os primeiros anos de organização da produção, foi preciso promover as boas práticas de manejo, assim como preparar o correto armazenamento e conservação do açaí. “Hoje, o produtor entrega o açaí para a Amazonbai que armazena na câmara fria do barco da entidade, que conserva no gelo até chegar à cidade, onde será beneficiado na agroindústria”, comenta.

As mudanças estruturais na cadeia produtiva da Amazonbai são reflexos da organização comunitária e do compromisso com a conservação do território. “Somos considerados um dos melhores açaí da Amazônia porque, além de todo esse trabalho de qualidade que a gente tenta garantir, também temos o trabalho das comunidades que inicia lá nos açaizais. É um produto de área que não tem desmatamento, que tem conservação da floresta em pé e tem um diferencial que garante tudo isso que são as certificações”, argumenta Amiraldo.

Açaí do Bailique é considerado um dos melhores da Amazônia

Com a acelerada expansão da demanda por açaí é preciso estar atento às configurações do cultivo do fruto. É o que defende Bruno Simionato Castro, coordenador de certificação do Imaflora: “é fundamental apoiar a cadeia do açaí de extrativismo, em virtude de suas configurações tradicionais e de fomento ao desenvolvimento sustentável de famílias amazônidas. Sabemos que existe um movimento de discussão do plantio de açaí para uma produção de escala, como por exemplo a utilização de áreas degradadas e sistemas agroflorestais. Trata-se de um outro processo que precisa ser acompanhado de perto, mas sem perder de vista a importância de se desenvolver o extrativismo”, defende.

O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) é uma associação civil sem fins lucrativos, criada em 1995 sob a premissa de que a melhor forma de conservar as florestas tropicais é dar a elas uma destinação econômica, associada a boas práticas de manejo e à gestão responsável dos recursos naturais. O Imaflora busca influenciar as cadeias produtivas dos produtos de origem florestal e agrícola, colaborar para a elaboração e implementação de políticas de interesse público e, finalmente, fazer a diferença nas regiões em que atua, criando modelos de uso da terra e de desenvolvimento sustentável que possam ser reproduzidos em diferentes municípios, regiões e biomas do país.

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