Educação

Pesquisador do HU-Unifap é destaque em ranking científico internacional

O Gerente de Ensino e Pesquisa (GEP) e pesquisador do Hospital Universitário da Universidade Federal do Amapá (HU-Unifap), José Carlos Tavares, é o 13º principal pesquisador da América Latina na área de Farmácia e Ciências Farmacêuticas, segundo o ranking científico Alper-Doger Scientific Index. A plataforma utiliza o Google Scholar como base e, diferentemente da maioria dos rankings científicos, que se concentram exclusivamente na quantidade de publicações, o AD Scientific Index considera aspectos qualitativos como performance científica e relevância do trabalho para o campo por meio de um indicador chamado “H Index”. Parte importante da produção científica do professor é desenvolvida em grupos de pesquisa que funcionam no HU-Unifap, vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que tem como missão a pesquisa e o ensino, para além da assistência à saúde.

Tavares é amapaense e farmacologista formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), com mestrado e doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado na IFP-Berlin, Alemanha. Foi reitor da Unifap por oito anos e é membro titular da Academia Nacional de Farmácia e da Real Academia de Farmácia da Espanha. Hoje, ele faz parte do quadro de pesquisadores do HU-Unifap e seus estudos estão compreendidos na área de “Ciências Médicas e da Saúde” e “Farmácia e Ciências Farmacêuticas”. Entre seus artigos de maior impacto na comunidade científica internacional estão “Atividade antimicrobiana e cicatrizante do kefir e do extrato de kefiran” e “Óleo essencial de Rosmarinus officinalis: Uma revisão de sua fitoquímica, atividade anti-inflamatória e mecanismos de ação envolvidos”.

“As pesquisas desenvolvidas no HU-Unifap são de excelência”

Além dos materiais listados no ranking AD Scientific Index, o professor destaca ainda uma revisão de literatura produzida sobre o alecrim. É um trabalho em que os pesquisadores criaram teorias que explicam o mecanismo de ação dessa espécie vegetal e, hoje, é um dos artigos mais citados em todo mundo e com alto impacto, acima de cinco.

Tavares também cita os trabalhos que estão sendo desenvolvidos na área de toxicologia reprodutiva, uma vez que praticamente todas as agências regulatórias atuais exigem que novos medicamentos passem por estudos de toxicologia em nível reprodutivo. O laboratório, a partir de suas pesquisas, avalia o risco de interferência de novos fármacos em mulheres que estão em período fértil.

Ele é categórico ao afirmar que essa posição de destaque científico prova a capacidade da região em desenvolver pesquisas e tecnologia de qualidade em nível global: “Isso tudo é estudo que sai daqui, do nosso Hospital, da nossa Universidade, do Amapá e da Amazônia. Isso desmistifica a ideia de que na Amazônia não há quadros competentes para a pesquisa científica de ponta. A qualidade das pesquisas desenvolvidas aqui no HU-Unifap é de excelência”.

“Não é um resultado só meu, mas de um grupo de pesquisadores”

O professor é enfático ao afirmar que a posição de destaque que ocupa é fruto de muito trabalho coletivo, especialmente, do Laboratório de Fármacos que coordena desde 1997. E que a participação de seus alunos em diversos níveis foi fundamental para que os trabalhos científicos produzidos alcançassem tamanha relevância: “O que move um pesquisador é o contexto de atividades em seu laboratório. Precisamos ter alunos em diversos níveis para conseguir um resultado desse, da iniciação científica até o pós-doutorado. Não é um resultado só meu, mas de um grupo”. Ele destaca, ainda, que a inovação e o trabalho do grupo com métodos e linhas de pesquisa novas também foram fundamentais para que os estudos desenvolvidos pelo laboratório ganhassem destaque não só no Brasil como no mundo.

Pesquisas do HU-Unifap abrem portas para economia tecnológica e sustentável na Amazônia

O Laboratório de Fármacos, coordenado pela GEP do HU-Unifap, debruça-se principalmente sobre o estudo de novos fármacos oriundos da biodiversidade amazônica. Em um contexto de altos índices de desmatamento e de uma economia regional baseada na lógica extrativista madeireira, mineral e de grandes latifúndios para pasto, o estudo desenvolvido pelo grupo de pesquisa do professor pode abrir portas para um novo modelo econômico regional que agregue valor às cadeias de produção, gerando muito mais riquezas para o estado, além de preservar florestas em pé.

Tavares destaca a importância dos trabalhos que estão sendo desenvolvidos para a sustentabilidade da Amazônia: “Nossos estudos pensam na agregação de valores. A partir de nossas pesquisas, hoje estamos discutindo a instalação de uma das primeiras indústrias farmacêuticas da nossa região. Podemos, a partir daí, fazer um grande projeto de valorização das pessoas que vão coletar essa matéria prima e da aplicação desses materiais sem derrubar nossa floresta. Utilizaremos matérias primas vegetais que precisam da floresta em pé: óleo, frutos, folhas, entre outras”. Para o professor, isso se traduzirá em um contexto de repensar a Amazônia exclusivamente para a indústria predadora extrativista, que nos faz perder árvores por dezenas ou centenas de anos: “Temos que avançar no sentido de ampliar nosso trabalho com biocosméticos, biofármacos e fitoterápicos. Precisamos agregar valor com tecnologia de ponta à nossa economia, trazendo a população tradicional de nossa região para trabalhar dentro desses projetos e se beneficiar do processo”.

Reconhecimento internacional é também legado de tradição amapaense no estudo da biodiversidade amazônica aplicada à saúde

A posição de destaque dos estudos desenvolvidos pelo professor José Carlos Tavares pode ser considerada um reflexo da tradição que o estado do Amapá possui no estudo de plantas medicinais da floresta amazônica. A sociedade amapaense conta com uma figura ilustre em sua história chamada Raimundo dos Santos Souza, popularmente conhecido como Mestre Sacaca. Sacaca foi um grande médico da floresta e é reconhecido como Doutor Honoris Causa pela Unifap e foi condecorado com a mais alta condecoração da Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture. Sacaca ganhou notoriedade no estado por ajudar muitas pessoas a resolverem seus males através de preparações com produtos naturais de origem vegetal e animal extraídos da floresta amazônica. “Ele tinha essa concepção de obter, a partir da floresta em pé, ingredientes ativos para resolver os problemas de saúde das pessoas. Precisamos trazer isso para dentro da academia, através da etnofarmacologia e da etnomedicina para que a aplicação tradicional comprovada cientificamente possa retornar para a sociedade de forma validada”.

O professor destaca que os trabalhos desenvolvidos dentro do HU-Unifap e do Laboratório de Fármacos estão relacionados ao legado de Sacaca, da tradição amapaense na saúde e que preservar essa memória é uma das suas principais tarefas: “Minha grande preocupação hoje na Amazônia é com o registro dessa tradicionalidade, do saber popular que aqui reside e que, se não registrarmos, vão se perder. Precisamos nos debruçar também na criação de documentários, teses e dissertações que sejam traduzidas em formatos mais adequados ao consumo da nossa população em forma de divulgação científica”.

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